Mark
Hominick, canadense originário do Kickboxing
e Muay Thai, passou a ter destaque em sua carreira no MMA
quando passou a lutar, em 2009, no extinto WEC (incorporada recentemente pelo UFC em 2010), uma prestigiada
organização dos pesos leves. Fez três lutas vencendo todas e começou a despontar
como promessa. Já no UFC, vence sua primeira luta com um ex-parceiro de treino
e lhe é, então, concedido o direito de lutar pelo cinturão da categoria. O
único problema era (e continua sendo...) que o campeão costuma responder pelo nome de José Aldo. Acho que não é necessário
explicar, né! O resultado, bem, acho que todos conhecem. José Aldo venceu
por pontos na casa dele (Canadá) e, ainda por cima, deixou uma lembrança
bizarra em sua testa. Foi necessário tranquilizar sua esposa pela TV, dizendo
que estava tudo bem. Perdeu, também, sua luta seguinte, tida como fácil, para
um coreano com um inesperado knock out
em 7 segundos. Seu próximo adversário: Eddie
Yagin.
Eddie “The
Filippino Phenom” Yagin
é havaiano (conterrâneo de B. J. Penn),
faixa marron de jiu-jitsu com bons
conhecimentos das lutas em pé. Com boa passagem
em torneios de ponta como WEC e Bellator, Yagin
assina com o UFC perdendo logo na sua estreia para o brasileiro Júnior Assunção no UFC 135, em setembro
de 2011. Seu próximo adversário: Mark
Hominick.
No
momento em que os dois ficaram frente a frente é que foi possível perceber a
diferença de altura entre ambos. Não que essa diferença fosse preocupante, mas
ela existia sim e era considerável. Ah! Já comecei a imaginar Hominick controlando a luta à distância
com jabs em razão da sua vantagem com
a envergadura e sempre com o direto preparado. Uma luta teoricamente fácil e para
voltar a ganhar. Ledo engano...
Foram
três rounds de arte bruta com
predominância do Boxe, não por acaso
também conhecido como a “nobre arte”.
Em muito, me lembrou a luta entre B. J.
Penn e Nick Diaz, já comentada
por esse mesmo escriba nesse mesmo blog.
No
primeiro round, Yagin conseguiu, admito, surpreender-me a tal ponto que, de deitado
no sofá, passei a sentar-me e, de repente, estava andando pela sala com as mãos
na cabeça como que desacreditando naquilo que via. O gigante perdendo para o
pequeno, o menor batendo no maior, o mais “fraco” dando uma boa lição no mais
“forte”. Yagin deu uma surra daquelas
em Hominick (quase que) apenas com a
mão esquerda. O round todo, bateu “doído” (como se diz na gíria) com a
esquerda e os médicos precisaram entrar para avaliar no intervalo. Hominick ficou bem feio e também não estava
acreditando no que via. Foi um round
de um lado só (para Yagin), inclusive
com direito a knock down. Durante
todo o round, Yagin foi o gigante imbatível e curiosamente de um golpe só,
enquanto que Hominick fazia o papel
de um garoto assustado e inseguro. Na minha imberbe opinião: 10x8 para Yagin. Ainda voltarei a esse round...
No
segundo round, Hominick finalmente entra na luta e equilibra as coisas. Round discutível. Na minha pontuação deu empate: 10x10. Mas não seria injusto, penso, se algum juiz enxergasse
vitória para alguém.
Terceiro
round, Yagin começa a sentir o gás (na realidade, a falta dele) e passa
por alguns maus momentos. Isso significa que o Yagin também vai ter que passar por um martelinho de ouro logo após
a luta. Tudo bem. Alguns vão dizer: - Ah! Mas foi uma luta de boxe... Eu responderia: - Sim... e que
luta...!!! Que primeiro round!!!!!!!! O que foi aquilo???? Yagin deve ter pensado diferente: que seria capaz de vencer a envergadura de Hominick se tivesse velocidade, ou seja,
com um bom e velho “bate-e-sai”. Isso me fez
lembrar... de Immauel Kant, mais
precisamente do texto “Que é
esclarecimento?” que consistia em uma tentativa de resposta à própria pergunta.
Para
Kant, esclarecimento é “a saída do homem de sua menoridade, da qual
ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a direção de outro indivíduo”. Assim, se a causa dessa
incapacidade estivesse na falta de coragem de servir-se a si mesmo sem a
direção de outrem, seria, então, o próprio homem, culpado pela sua situação de
menoridade intelectual. Só estaria livre de culpa se a causa estivesse na
própria falta de entendimento.
No
entendimento de Kant, é bem
complicado desvencilhar-se da menoridade na medida em que ela passou a ser
interpretada como uma espécie de natureza.
Yagin, ao protagonizar um primeiro round como aquele, deixou sua menoridade
para trás para tornar-se uma pessoa esclarecida. Tendo a coragem de fazer uso de
seu próprio entendimento sobre a luta e desenvolvê-la a seu modo, venceu por
pontos de forma arrebatedora, emocionante e (porquê não?) esclarecedora...
Yagin, o esclarecido.......