quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Wanderlei Silva e a Metafísica


Wanderlei Silva é um caso único. Perdoem-me pelo abuso de linguagem, mas ele é aquela expressão que é tangente à Metafísica. Suas batalhas são sempre um convite à Filosofia. Digo isso fundamentado em Platão e Aristóteles, uma vez que, para eles, toda e qualquer Filosofia nasce sempre da admiração e do espanto. Indagações tais como “Por que o mundo existe?” e “Por que as coisas são como são?” podem servir de exemplo.
Questões precisamente relacionadas com o cerne ou a essência de algo (ou alguém) fazem parte de uma área da Filosofia: a Metafísica. Assim, perguntas como “Quem sou?”, “O que sou?”, “Sou, hoje, o mesmo de cinco anos atrás?”, “Se mudei, por qual razão posso, ainda, me considerar a mesma pessoa?”, “O que é o belo?”, “O que é virtude?”, “O que é bondade?”, “O que é subjetividade?” ilustram bem problemas que podem ser considerados como metafísicos.
Desse modo, podemos dizer que a Metafísica é uma forma de investigação filosófica que faz uso de perguntas do tipo “O que é?”. Aqui cabem duas observações com respeito ao significado do verbo “ser” da pergunta:
·         Pode significar “existir”. Nesse caso a pergunta refere-se à realidade;
·         Pode tratar da “essência de alguma coisa”, daquilo que lhe é próprio por natureza.
A literatura sobre a Metafísica é vasta, mas é possível destacar alguns de seus pilares:
·         Platão e Aristóteles (séculos IV e III a.c.);
·         David Hume (século XVIII);
·         Kant (século XVIII);
·         Ontologia (século XX).
No período de Platão e Aristóteles, a Metafísica lida basicamente com aquilo que é ou existe, ou seja, com a realidade em si. Constitui um conhecimento “racional apriorístico”, isto é, fundamenta-se em conceitos idealizados pelo pensamento humano e não por dados resultantes de uma experiência sensorial e prática. A Metafísica desse período caracteriza-se, também, pela separação entre o mundo das aparências e a realidade.
David Hume sugere que esses conceitos metafísicos (idealizados) não faziam parte da realidade externa, isto é, não existiam de fato. Eram apenas rótulos que designamos às coisas (pessoas) com base em nossos hábitos de associar sensações à ideias, de modo regular.
Kant nega a possibilidade de se conhecer a realidade por meio de conceitos da Metafísica. Por isso, propõe que a Metafísica seja o conhecimento da nossa capacidade de conhecer. Como resultado, não nos referiremos mais ao que existe em si, mas, de outro modo, àquilo que existe para nós.
Já a Ontologia estuda a essência, seus sentidos e os diferentes modos como os seres existem, levando em consideração a linguagem, a intersubjetividade, moral etc.
Essência, aparência, coisa em si, capacidade de conhecer, admiração, espanto. Afinal: Quem é Wanderlei Silva? Quem é esse excepcional lutador? É possível conhecer a essência desse ser? Um lutador que é apelidado de “cachorro louco” e luta melhor quando sangra? Um lutador que dominou o mundo por seis anos em sua categoria? Que foi o primeiro brasileiro a trucidar Sakuraba? Isso mesmo, Sakuraba, aquele que venceu quatro membros da família Gracie em seguida? O eterno herói japonês!
Do que é feito Wanderlei Silva? Como se não bastasse, teve, ainda, que provar sua superioridade sobre Sakuraba por mais duas vezes! E de “cachorro louco”, Wanderlei Silva mudou para “the axe murderer”. Mas, será que Wanderlei Silva do Pride é o mesmo de hoje? Aí eu não sei, tenho minhas dúvidas. Essa pergunta também é necessária, mas meu foco está mais para a pergunta “Quem é ele?”. Por que ele é do jeito que é? Brutal, destruidor, um matador nato... Seu instinto está mais para assassino do que para sobrevivência... Para ele, não basta vencer a luta, o inimigo deve ser exterminado!
Ah, “Cachorro louco”! Não sei se é possível atingir a sua essência. Mas soltei alguns pitacos...