segunda-feira, 23 de junho de 2014

Minotauro, Roy Nelson e Soren Kierkegaard


O resultado da luta principal do UFC Fight Night: Nogueira vs Nelson, realizado em Abu Dhabi em 11 de abril de 2014, deu o que falar por parte tanto da imprensa especializada quanto pelos fãs de MMA em geral (e do nosso querido Minotauro, em particular).

É claro que ninguém gosta de ver um ídolo como o Minotauro perder, ainda mais da maneira como foi. É como se fosse um mix de sensações como tristeza, desconforto, desilusão, abatimento, aperto e por ai vai... Mas é possível entender! Minotauro nos deixou mal-acostumados. É raro encontrarmos em seu cartel derrotas por knockout. Na realidade foram apenas duas: A primeira para Frank Mir e a outra para Cain Velasquez. Para Frank Mir, parece que Minotauro estava se recuperando da bactéria do suor, que pode causar infecção generalizada, amputação de membros e, inclusive, levar a morte. Já contra Cain Velasquez, a luta estava lá e cá, como se costuma dizer. Mas, Minotauro entrou com um jab e Velasquez aproveitou seu movimento de esquiva e cruzou com a direita. Peso pesado é assim mesmo: entrou a mão, tem que descer! Parabéns ao Velasquez, e a vida continua! Mas, foram apenas essas duas vezes que nosso Minota tinha sido pego na trocação. Rever essas lutas era como encontrar um material “raro” dele...

Mas aconteceu de novo... E, desde o início, parecia que as coisas não estavam boas para ele. Mas, por outro lado, essa é uma típica situação da qual já nos habituamos e, inclusive, é sua marca registrada. Minotauro costuma fazer lutas extremamente emocionantes, com várias reviravoltas, que, em geral, não são recomendadas para os cardíacos.

Mas não tivemos as reviravoltas... Ao todo, contabilizei três momentos ruins que foram definitivos para o fim da luta ainda no primeiro round:

  • Um uppercut que, deve ter entrado em cheio, tanto que, no momento seguinte, Roy Nelson, ao perceber que Minotauro teria sentido o golpe, soltou um over hand de direita;
  • Outro over hand de direita, faltando, agora, 1:55 min para o término do primeiro round;


  • Ao notar claramente que nosso Minotauro cambaleava, Roy Nelson, aperta o passo e, novamente com um over hand de direita, encerra a luta.


Os dois primeiros golpes levaram a knockdown. O derradeiro levou a knockout. A partir daí, o que se viu e ouviu foi um festival de críticas e julgamentos, todos num mesmo sentido e direção: aposentadoria. Até Dana White, o “big boss” do evento que, em razão de sua vaidade, se comporta mais como se fosse o “big boss” do esporte, deu seus pitacos. Na revista Tatame de abril, saiu uma declaração sua que intitulava a matéria: “Não quero vê-lo lutar nunca mais”.

Bem, em primeiro lugar, duvido que a aposentadoria nunca tenha passado pela cabeça do Minotauro. Em segundo lugar, julgar o outro, ou alguém, é muito fácil. Aliás, é o que a gente mais faz durante o dia. Tudo o que vemos, observamos, ouvimos, lemos etc, passa pelo crivo do nosso julgamento. Sempre achamos alguma coisa de qualquer coisa. Também, não é para menos. A capacidade (ou habilidade, se preferir) de julgar sempre foi uma aptidão extremamente valiosa de nosso instinto de sobrevivência. Sem ela, dificilmente sobreviveríamos na época das cavernas. Dessa forma, não me chama a atenção a quantidade de críticas e julgamentos que, desde então, o Minotauro vem recebendo. O problema nem ao menos é esse. 

O problema, na realidade, deveria ser deslocado daquilo que as pessoas acham para aquilo que o Minotauro acha ou tem a dizer! Se ele quiser se aposentar agora, basta anunciar. Se ele não quiser, quais são os motivos que o levam a querer continuar a lutar? É ai que deve estar o debate. Mas as pessoas preferem falar ao microfone (julgar) mais do que passar o microfone para quem deveria falar algo (ouvir). A primeira habilidade faz parte do instinto de sobrevivência. Já a segunda não. É mais para quem gosta de pensar, refletir, enfim, para quem não se contenta, apenas e tão somente, em ficar emitindo julgamentos. 


Esse tipo de gente costuma ser mais solitária, uma vez que começa a pensar mais por si própria já que suas dúvidas, incertezas e curiosidades são outras. Que razões levam nosso querido Minotauro a escolher continuar lutando? Escolha individual, responsabilidade angústia. Me faz lembrar Jean Paul Sartre e o existencialismo francês. Mas vamos tratar, aqui, do dinamarquês Soren Kierkegaard, um dos precursores do existencialismo de Sartre.

Kierkegaard foi o sétimo filho de um casal já em idade avançada para a época. Referia-se, frequentemente, a si próprio como “filho da velhice” e caso não fosse tão boêmio e indisciplinado teria, provavelmente, seguido a carreira de pastor. Com um pai extremamente religioso, sentimentos conflituosos tais como angústia, ansiedade acompanharam suas obras.


Em Kierkegaard, as escolhas (pessoais) constituíam uma das peças fundamentais de sua filosofia, uma vez que era por meio da realização daquelas (escolhas) é que o nosso autoconhecimento e responsabilidade pessoal seriam possíveis. Kierkegaard chegou a afirmar que o sentimento de angústia seria um modo de salvação para a humanidade. É a angústia que colocaria o ser humano diante de suas possibilidades de escolha, retirando-o de uma situação de imediatismo não-autoconsciente para uma reflexão autoconsciente. Somente através de uma experiência angustiante é que um indivíduo poderia se tornar verdadeiramente consciente.

E mais. Kierkegaard vai além: segundo ele, a única forma de lógica que as escolhas poderiam possuir é de ordem psicológica: o que um indivíduo faz depende daquilo que ele quer, do que ele escolhe, e não daquilo que ele compreende. Contudo, cada escolha envolve um risco em função da incerteza inerente. Assim, existir, do ponto de vista de um indivíduo consciente, é escolher-se e uma escolha deve fazer sentido para quem escolhe. Se a escolha de A não faz sentido para B, isso não é um propriamente um problema de A...

Minotauro... Estou contigo para o que der e vier!!!



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