Após
o inesquecível 7 de julho em Las Vegas (UFC 148 – Anderson Silva vs. Chael
Sonnen II), Spider Silva volta ao
octógono mas, dessa vez, em uma situação diferente. Sobe de categoria para
enfrentar Stephan “the american psicho”
Bonnar em uma luta para "salvar" o evento em razão de uma
série de modificações no
card
das lutas. Coisa rara em um campeão: fazer duas lutas profissionais num intervalo de três meses, sendo que a segunda não estava programada.
Um
pouco de Bonnar: Foi vice-campeão da
primeira edição do reality show “The Ultimate Fighter” numa luta tão sangrenta
quanto histórica contra o incansável Forrest
Griffin. Isso sem falar em sua faixa preta de Tae Kwon Do, obtida aos dezesseis anos de idade.
Legendário
do MMA, costuma ser lembrado por lutas sangrentas e emocionantes, sempre com
muitas reviravoltas.
Mas
desde o casamento da luta e de seu retorno aos treinamentos, Bonnar tem recebido conselhos e
sugestões de seus familiares para que não lutasse, pois seria massacrado pelo
temível Spider. Chegou,
inclusive, a declarar que sua mãe tinha medo de que Anderson o matasse.
Deixando
de lado
frases de efeito, instaurou-se,
por outro lado, um clima de respeito mútuo antes da luta por serem dois senhores
educados e que contribuem, há muito, para o desenvolvimento do esporte. Isso, de alguma forma, me fez lembrar de Jaques Derrida, precisamente do seu texto “Força da Lei”. Como muitos, Derrida também se interessou em estudar
a origem e a lógica de certas expressões idiomáticas, tais como a do título
desse artigo.
Em sua abordagem, como
diferenciar a “força da lei”, aquela pensada usualmente no contexto
jurídico, e a força com violência, considerada injusta? Sabe-se que
existe uma palavra em alemão, Gewalt,
muito utilizada em textos antigos de Direito na Alemanha, que possui rigorosamente
dois significados, a saber, de violência e também o de autoridade. Desse modo, o
que viria a ser uma força justa ou uma força não violenta?
Em
meio a seus estudos, Derrida esclarece que
“se
a justiça não é necessariamente o direito ou a lei, ela só pode tornar-se
justiça, por direito ou em direito, quando detém a força, ou antes quando recorre
à força desde seu primeiro instante, sua primeira palavra.”
“A
justiça sem a força é impotente e a força sem a justiça é tirânica.”
Derrida cita novamente Pascal que citou, por sua vez, Montaigne (filósofo francês
representante do ceticismo e já citado por aqui em outras elucubrações) quando
escreveu:
“[...]
um diz que a essência da justiça é a autoridade do legislador, outro, a
comodidade do soberano, outro, o costume presente; e é o mais seguro: nada,
segundo somente a razão, é justo por si; tudo se move com o tempo. O costume
faz toda equidade, pela simples razão de ser recebida; é o fundamento místico
da autoridade. Quem a remete ao seu princípio, a aniquila.”
Novamente
Montaigne, com seu ceticismo e sapiência,
ilumina com as luzes da razão aquilo que estava nas trevas da ignorância ao escrever:
“Ora as leis se
mantêm em crédito, não porque elas são justas, mas porque são leis. É o
fundamento místico de sua autoridade, elas não têm outro [...]. Quem a elas
obedece porque são justas não lhes obedece justamente pelo que deve.”
A
noite de 14 de outubro de 2012 foi um exemplo claro do fundamento místico da
autoridade da qual Anderson Silva atualmente
vivencia. Não há, de fato, razões para supor que não exista ninguém, na face da Terra, capaz de
vencer Anderson Silva. Mas todos os seus oponentes comportam-se e raciocinam
segundo esse fundamento místico da
autoridade.
No UFC Rio III, Spider Silva literalmente "brincou" com Stephan Bonnar, nocauteando-o ainda no primeiro round, fazendo-o, além de tudo, parecer um inexperiente sem vocação. Stephan Bonnar não conseguiu fazer coisa alguma. Talvez tenha respeitado demais, com certa mística, diria, uma espécie de autoridade projetada em Anderson Silva...
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