sábado, 9 de fevereiro de 2013

Spider Silva, Stephan Bonnar e Jaques Derrida: O Fundamento Místico da Autoridade




Após o inesquecível 7 de julho em Las Vegas (UFC 148 – Anderson Silva vs. Chael Sonnen II), Spider Silva volta ao octógono mas, dessa vez, em uma situação diferente. Sobe de categoria para enfrentar Stephan “the american psicho” Bonnar em uma luta para "salvar" o evento em razão de uma série de modificações no card das lutas. Coisa rara em um campeão: fazer duas lutas profissionais num intervalo de três meses, sendo que a segunda não estava programada.
Um pouco de Bonnar: Foi vice-campeão da primeira edição do reality show “The Ultimate Fighter” numa luta tão sangrenta quanto histórica contra o incansável Forrest Griffin. Isso sem falar em sua faixa preta de Tae Kwon Do, obtida aos dezesseis anos de idade.
Legendário do MMA, costuma ser lembrado por lutas sangrentas e emocionantes, sempre com muitas reviravoltas.
Mas desde o casamento da luta e de seu retorno aos treinamentos, Bonnar tem recebido conselhos e sugestões de seus familiares para que não lutasse, pois seria massacrado pelo temível Spider. Chegou, inclusive, a declarar que sua mãe tinha medo de que Anderson o matasse.
Deixando de lado frases de efeito, instaurou-se, por outro lado, um clima de respeito mútuo antes da luta por serem dois senhores educados e que contribuem, há muito, para o desenvolvimento do esporte. Isso, de alguma forma, me fez lembrar de Jaques Derrida, precisamente do seu texto “Força da Lei”. Como muitos, Derrida também se interessou em estudar a origem e a lógica de certas expressões idiomáticas, tais como a do título desse artigo.
Em sua abordagem, como diferenciar a “força da lei”, aquela pensada usualmente no contexto jurídico, e a força com violência, considerada injusta? Sabe-se que existe uma palavra em alemão, Gewalt, muito utilizada em textos antigos de Direito na Alemanha, que possui rigorosamente dois significados, a saber, de violência e também o de autoridade. Desse modo, o que viria a ser uma força justa ou uma força não violenta?
Em meio a seus estudos, Derrida esclarece que

“se a justiça não é necessariamente o direito ou a lei, ela só pode tornar-se justiça, por direito ou em direito, quando detém a força, ou antes quando recorre à força desde seu primeiro instante, sua primeira palavra.”

Derrida lembra ainda de Pascal quando escreve que

“A justiça sem a força é impotente e a força sem a justiça é tirânica.”

Derrida cita novamente Pascal que citou, por sua vez, Montaigne (filósofo francês representante do ceticismo e já citado por aqui em outras elucubrações) quando escreveu:

“[...] um diz que a essência da justiça é a autoridade do legislador, outro, a comodidade do soberano, outro, o costume presente; e é o mais seguro: nada, segundo somente a razão, é justo por si; tudo se move com o tempo. O costume faz toda equidade, pela simples razão de ser recebida; é o fundamento místico da autoridade. Quem a remete ao seu princípio, a aniquila.”

Novamente Montaigne, com seu ceticismo e sapiência, ilumina com as luzes da razão aquilo que estava nas trevas da ignorância ao escrever:

“Ora as leis se mantêm em crédito, não porque elas são justas, mas porque são leis. É o fundamento místico de sua autoridade, elas não têm outro [...]. Quem a elas obedece porque são justas não lhes obedece justamente pelo que deve.”

A noite de 14 de outubro de 2012 foi um exemplo claro do fundamento místico da autoridade da qual Anderson Silva atualmente vivencia. Não há, de fato, razões para supor que não exista ninguém, na face da Terra, capaz de vencer Anderson Silva. Mas todos os seus oponentes comportam-se e raciocinam segundo esse fundamento místico da autoridade.





No UFC Rio III, Spider Silva literalmente "brincou" com Stephan Bonnar, nocauteando-o ainda no primeiro round, fazendo-o, além de tudo, parecer um inexperiente sem vocação. Stephan Bonnar não conseguiu fazer coisa alguma. Talvez tenha respeitado demais, com certa mística, diria, uma espécie de autoridade projetada em Anderson Silva...


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