Diziam
que os próprios médicos não acreditaram em sua sobrevivência. Até o diafragma
teve que ser reconstruído.
Minotauro passou por muitos testes e
provações em sua vida (ao que tudo indica, esse deve ter sido o primeiro). E em
um certo número deles sempre com chances extremamente desfavoráveis. Sua luta
com o ex-jogador de futebol americano Bob
Sapp em agosto de 2002 é mais um exemplo.
Bob Sapp pode ser, de certa forma,
descrito como um gigante 1,96 m de altura e 171 quilos de músculos, todos
muito bem pesados na véspera da luta.
Uma
das versões que se comentava na época sobre o casamento dessa luta era que os
promotores japoneses do Pride (principal organização de lutas do momento) queriam penalizar Minotauro por ter lutado em um evento
concorrente UFO-Legend, também
japonesa.
Mas, quem já teve, uma vez na vida, a experiência de ficar em baixo de, aproximadamente, seis toneladas, com certeza não se deixa amedrontar tão facilmente com 171 quilos...
Mas, quem já teve, uma vez na vida, a experiência de ficar em baixo de, aproximadamente, seis toneladas, com certeza não se deixa amedrontar tão facilmente com 171 quilos...
O
que chama a atenção nisso tudo é a atitude, por parte do Minotauro, em aceitar o desafio. Enquanto os outros entendiam sua
derrota como certa e verdadeira, Minotauro ainda
tinha lá suas dúvidas. Estaria ele sendo racional?
Certeza,
verdade, dúvida, razão... Como não lembrar de René Descartes? Sim, o pai do racionalismo e fundador da Filosofia
Moderna. Autor do famoso “Discurso do
Método”, defendia a ideia revolucionária de que a dúvida seria o primeiro
passo para o conhecimento. O seu método de pensamento (método cartesiano)
baseava-se no ceticismo metodológico que, de forma resumida, consiste em duvidar
das coisas que não são muito claras e ou compreensíveis. Isso é diferente do Ceticismo, uma vez que esse último
constitui uma espécie de atividade ou postura crítica permanente sobre tudo e
para com todos, e não apenas sobre aquilo que não está razoavelmente claro. Rompe com os
gregos para quem as coisas existiam porque simplesmente deveriam existir e pronto. Mas, pelo
método cartesiano, a comprovação da existência de algo deve ser demonstrada,
deve passar pelo crivo da dúvida, deve ser contestada, pelo menos num primeiro
momento.
Mudou
para sempre a forma de se pensar e de filosofar quando propôs sua famosa
expressão cogito, ergo sum (penso,
logo existo). Ao ser capaz de questionar e duvidar,
chegou à conclusão de que a única coisa de que não podia duvidar era do próprio
fato de que duvidava, de que realizava um pensamento, qualquer que fosse. Se
penso, então existo!
Nesse
instante, René Descartes distingue
coisa que “pensa” (res cogitans) de
coisa que simplesmente “ocupa espaço” (res extensa).
Essas seriam coisas totalmente diferentes.
Voltemos
à luta: Com relação ao primeiro round
(que no Pride era de dez minutos), a
impressão que tive é que um caminhão passava novamente por cima de Minotauro. Bob Sapp bateu “doído”, como se diz na gíria. Judiou. Minotauro chegou até mesmo a “apagar”
com um “pilão” logo no início da luta. Ainda bem que, logo em seguida, conseguiu acordar com um dos socos de Bob Sapp.
Muitas
tentativas de “double lag” por parte
de Minotauro, mas derrubar 171 quilos
é complicado. Bob Sapp aproveitava e
caia por cima para bater mais um pouco. A vida ficou ainda mais difícil para Minotauro quando esse se agarrou
na perna esquerda de Bob Sapp e lá ficou de ponta-cabeça
por um tempo (obviamente na tentativa de uma chave de calcanhar). Bob Sapp, num momento de esperteza, dobrou o joelho direito, colando,
assim, sua perna com a parte traseira da coxa, Mirou e, com todo o peso do seu
corpo, caiu de joelho sobre a cabeça do Minotauro.
Interrupção médica. Enorme inchaço na região do olho esquerdo do Minota. Os médicos deram um “ok” e a luta continuou. Tempo ruim o tempo todo. Fim do primeiro round. A equipe do brazuca estava desesperada e queria jogar a toalha. Mas, Minotauro, brasileiro que não desiste nunca, achava que dava para ganhar. O gigante já dava sinais de cansaço. É sempre bom lembrar que, nas artes marciais, é recorrente a ideia de que a técnica supera a força.
Interrupção médica. Enorme inchaço na região do olho esquerdo do Minota. Os médicos deram um “ok” e a luta continuou. Tempo ruim o tempo todo. Fim do primeiro round. A equipe do brazuca estava desesperada e queria jogar a toalha. Mas, Minotauro, brasileiro que não desiste nunca, achava que dava para ganhar. O gigante já dava sinais de cansaço. É sempre bom lembrar que, nas artes marciais, é recorrente a ideia de que a técnica supera a força.
O
segundo round era de cinco minutos.
Mas, Minotauro precisou de menos: Faltando
um minuto para o término do round, Minotauro, por baixo, consegue girar seu
corpo e ficar por cima. Começa a bater um pouco e para. Ao perceber que estava
diante de uma real possibilidade de finalizar a luta, Minota “vai para o braço”.
Num arm-lock (chave de braço) arrematador,
Minotauro, a lenda, leva mais um braço,
desta vez o de Bob Sapp, para o interior
de seu tenebroso e sombrio labirinto e, em meio a mais um de seus rituais sangrentos, prepara
mais um banquete. Minotauro, dessa vez,
é quem passa
o caminhão
por cima. A vida ensina. Aprende quem quiser. Supera
quem puder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário