segunda-feira, 25 de março de 2013

Minotauro, Bob Sapp e René Descartes: Luto, logo existo!


Existe um teste que mede a probabilidade de uma pessoa infartar: o Teste de Framingham. Assistir a uma luta do Minotauro não fica muito longe disso. Lenda do MMA, ajudou a escrever a história do esporte com sangue, suor e lágrimas. Aos onze anos de idade ficou quatro dias em coma e um ano internado. Fora atropelado por um caminhão. Em uma de suas entrevistas relata que, brincando com amiguinhos, subiu na carroceria de um caminhão. Quando o motorista o ligou, as crianças saltaram pela lateral. Mas, o pequeno Antônio Rodrigo saltou pela traseira e acabou caindo de costas no chão. Quando a marcha ré foi engatada... 

Diziam que os próprios médicos não acreditaram em sua sobrevivência. Até o diafragma teve que ser reconstruído.

Minotauro passou por muitos testes e provações em sua vida (ao que tudo indica, esse deve ter sido o primeiro). E em um certo número deles sempre com chances extremamente desfavoráveis. Sua luta com o ex-jogador de futebol americano Bob Sapp em agosto de 2002 é mais um exemplo.

Bob Sapp pode ser, de certa forma, descrito como um gigante 1,96 m de altura e 171 quilos de músculos, todos muito bem pesados na véspera da luta. 

Uma das versões que se comentava na época sobre o casamento dessa luta era que os promotores japoneses do Pride (principal organização de lutas do momento) queriam penalizar Minotauro por ter lutado em um evento concorrente UFO-Legend, também japonesa.
   
Mas, quem já teve, uma vez na vida, a experiência de ficar em baixo de, aproximadamente, seis toneladas, com certeza não se deixa amedrontar tão facilmente com 171 quilos...

O que chama a atenção nisso tudo é a atitude, por parte do Minotauro, em aceitar o desafio. Enquanto os outros entendiam sua derrota como certa e verdadeira, Minotauro ainda tinha lá suas dúvidas. Estaria ele sendo racional?

Certeza, verdade, dúvida, razão... Como não lembrar de René Descartes? Sim, o pai do racionalismo e fundador da Filosofia Moderna. Autor do famoso “Discurso do Método”, defendia a ideia revolucionária de que a dúvida seria o primeiro passo para o conhecimento. O seu método de pensamento (método cartesiano) baseava-se no ceticismo metodológico que, de forma resumida, consiste em duvidar das coisas que não são muito claras e ou compreensíveis. Isso é diferente do Ceticismo, uma vez que esse último constitui uma espécie de atividade ou postura crítica permanente sobre tudo e para com todos, e não apenas sobre aquilo que não está razoavelmente claro. Rompe com os gregos para quem as coisas existiam porque simplesmente deveriam existir e pronto. Mas, pelo método cartesiano, a comprovação da existência de algo deve ser demonstrada, deve passar pelo crivo da dúvida, deve ser contestada, pelo menos num primeiro momento.

Mudou para sempre a forma de se pensar e de filosofar quando propôs sua famosa expressão cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ao ser capaz de questionar e duvidar, chegou à conclusão de que a única coisa de que não podia duvidar era do próprio fato de que duvidava, de que realizava um pensamento, qualquer que fosse. Se penso, então existo!

Nesse instante, René Descartes distingue coisa que “pensa” (res cogitans) de coisa que simplesmente “ocupa espaço” (res extensa). Essas seriam coisas totalmente diferentes.

Voltemos à luta: Com relação ao primeiro round (que no Pride era de dez minutos), a impressão que tive é que um caminhão passava novamente por cima de Minotauro. Bob Sapp bateu “doído”, como se diz na gíria. Judiou. Minotauro chegou até mesmo a “apagar” com um “pilão” logo no início da luta. Ainda bem que, logo em seguida, conseguiu acordar com um dos socos de Bob Sapp.

Muitas tentativas de “double lag” por parte de Minotauro, mas derrubar 171 quilos é complicado. Bob Sapp aproveitava e caia por cima para bater mais um pouco. A vida ficou ainda mais difícil para Minotauro quando esse se agarrou na perna esquerda de Bob Sapp e lá ficou de ponta-cabeça por um tempo (obviamente na tentativa de uma chave de calcanhar). Bob Sapp, num momento de esperteza, dobrou o joelho direito, colando, assim, sua perna com a parte traseira da coxa, Mirou e, com todo o peso do seu corpo, caiu de joelho sobre a cabeça do Minotauro.
Interrupção médica. Enorme inchaço na região do olho esquerdo do Minota. Os médicos deram um “ok” e a luta continuou. Tempo ruim o tempo todo. Fim do primeiro round. A equipe do brazuca estava desesperada e queria jogar a toalha. Mas, Minotauro, brasileiro que não desiste nunca, achava que dava para ganhar. O gigante já dava sinais de cansaço. É sempre bom lembrar que, nas artes marciais, é recorrente a ideia de que a técnica supera a força.

O segundo round era de cinco minutos. Mas, Minotauro precisou de menos: Faltando um minuto para o término do round, Minotauro, por baixo, consegue girar seu corpo e ficar por cima. Começa a bater um pouco e para. Ao perceber que estava diante de uma real possibilidade de finalizar a luta, Minotavai para o braço”.
Num arm-lock (chave de braço) arrematador, Minotauro, a lenda, leva mais um braço, desta vez o de Bob Sapp, para o interior de seu tenebroso e sombrio labirinto e, em meio a mais um de seus rituais sangrentos, prepara mais um banquete. Minotauro, dessa vez, é quem passa o caminhão por cima. A vida ensina. Aprende quem quiser. Supera quem puder. 


Minotauro: venceu porque pensou (res cogitans). Bob Sapp: coisa que ocupa espaço (res extensa).

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