Na sexta-feira, 11 de novembro de 2011, voltei mais cedo do serviço. Um pouco ansioso, eufórico, talvez. Vim pensando na luta do Velasquez contra Cigano, no sábado. Assisti à pesagem e percebi demasiado respeito entre os lutadores que, para um cara esquisito como eu, deu margem para suspeitar de algo estranho...
Cain Velasquez: americano com orgulho de suas origens latinas cravado no próprio peito com tatoo (“Pride” = “Orgulho”). Wrestler, extremamente forte e indubitavelmente merecedor do título mundial dos pesos pesados. Será sua primeira defesa de cinturão após um ano afastado em razão de uma cirurgia no ombro.
Cigano: brazuca, striker, excelente boxer com raízes no Jiu-Jitsu e de enorme força bruta.
O detalhe que não pode ser, de modo algum, ignorado é que ambos estão invictos no UFC. Seria virtude? Mas o que vem a ser virtude? Não há consenso sobre essa acepção. Para Montaigne, deve ser pensada como uma atitude, uma ação, com a característica de ser um fim em si mesmo, isto é, sem a pretensão de se esperar algo em troca de alguém. Como assim? Posso, por exemplo, decidir parar de fumar logo após um ataque do coração. Nesse caso, não faz sentido supor que essa decisão está sendo tomada na esperança de se obter, futuramente, algo em troca de alguém. A natureza dessa decisão, nesse caso, a de parar de fumar, constitui, por assim dizer, um fim em si mesmo. Por outro lado, se, por exemplo, compro presentes para alguém, como provar que, por meio desse ato, não estou esperando, futuramente, algo em troca dessa mesma pessoa? Nesse caso, fica difícil comprovar que essa atitude constitui um fim em si mesmo e, portanto, para Montaigne, é, no mínimo, improvável acreditar que distribuir presentes por aí seja uma virtude. Mas a palavra virtude pode receber, e de fato recebe, outros contornos, a depender de quem a emprega...
Mas supondo que nossos guerreiros tenham lá suas virtudes, essas serão precisamente aquelas que, segundo Nietzsche, combinam com as inclinações e traços pessoais e mais profundos desses lutadores. Ah! Há algo de belo em procurar suas próprias virtudes. Nesse caso, quais seriam suas virtudes?
Motivado pelo orgulho de suas origens e com sua força bruta, é perfeitamente possível consagrar-se campeão mundial, como parece ser o caso de Velasquez. Esses são, aliás, os combustíveis ideais para tal missão, uma espécie de condição sine qua non. Mas para manter-se no poder, são necessários outros traços e inclinações que aparentemente Velasquez não demonstrou possuir em seu olhar, ao adentrar no octógono. Uma coisa é reunir as condições para ser campeão. Outra é possuir características e condições que permitam, além de tornar-se campeão, continuar campeão. Nesse último caso, são mais raras, ainda, a reunião de todas essas características. Isso significa que é necessário mais do que força bruta e orgulho para manter-se no poder, campeão.
Início da luta: Velasquez tenta um chute e Cigano devolve com a direita. Em seguida, ambos os golpes anteriores ocorrem simultaneamente. Novamente, Velasquez e Cigano tentam os mesmos golpes mas, dessa vez, sem sucesso. Cigano tenta um “pisão” com o pé direito e Velasquez quase o derruba. Novamente Velasquez tenta um chute e Cigano devolve com um soco (esquerda). Em seguida, algumas tentativas de “trocação”, mas sem êxito. Quando marcados 55 segundos de luta, Cigano, com um petardo de direita, apresenta, pela primeira vez ao grande campeão Cain Velasquez, o chão. Aí foi só colocar em prática algumas regras de etiqueta e deixá-los (Velasquez e o chão) um pouco mais a vontade...
Mas, em que bases o nosso novo campeão Cigano chegou lá? Quais foram as suas motivações? Só o tempo dirá...
Nenhum comentário:
Postar um comentário